Ele estava prostrado…
Os olhos esbugalhados,
Sem luz,
Sem vida…
Não como um bêbado
Ou louco…
Aquela massa insana,
Era,
Toda ela,
A mais miserável dor…
A matilha selvagem aproximou-se lentamente
Os cães vadios de rua o rodearam,
Ali, na praça inerte,
Sem vida,
Como ele,
Naquela madrugada sem luz.
Lugar tenebroso, fétido!
Nada lhe parecia melhor…
O odor abominável de carne podre,
Como a sua,
Vinha do lixão do matadouro ao lado.
Amava e desejava aquele fedor,
Atiçando-lhe as narinas sedentas,
E aos cães vadios de rua a rodeá-lo…
Rosnavam os cães.
Certamente sabiam,
Seu instinto selvagem os alertou,
Tinham carniça à sua frente.
Podiam massacrá-lo se quisessem.
Parecia eminente a morte,
Para ele, nada mais que redenção…
Foi repentina a mudança.
Os cães olharam,
Através dos olhos do homem.
Viram sua alma sem vida.
Era tanta a dor,
Tanta!…
Nem eles, bichos miseráveis de rua,
Haviam visto dor igual…
Calaram-se os cães.
Naquela noite de cães vadios,
Até o feroz chefe do bando,
Compadecido,
Enquanto os outros cães choravam,
Em silêncio respeitoso,
Lambeu-lhe os olhos,
Solidário.
Neles,
A mais odiosa
Dor…
Eduardo Ramos